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- Targum e Midraxe
02 novembro 2014
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| Estudantes judeus, autor e data não identificados |
Existiram, no passado distante, dois métodos de interpretação bíblica, que foram ambos interessantes, válidos e extremamente necessários. São eles o Targum e o Midraxe ou Midrach. O Targum, mais antigo, eram traduções, interpretações e explicações dos termos hebraicos para os judeus que voltaram da Babilônia, e que agora falavam apenas o aramaico, pois o exílio os fez perder o contato com a língua mãe. O Midraxe foi o método de interpretação do Primeiro Testamento criado pelos rabinos fariseus, que após a destruição do Templo no ano 70 da nossa era, tentaram adaptar o Judaísmo às precárias condições de vida do seu povo.
Não sei se estou sendo visionário, mas percebo claramente que os recursos que esses dois métodos de interpretação bíblica têm a nos oferecer são tudo aquilo que mais precisamos na igreja, nos dias atuais. Logicamente que para que o método tenha algum efeito, nós precisamos antes nos conscientizar de duas realidades que andam meio que sonegadas e esquecidas por nós, os cristãos.
A primeira realidade, essa bem mais afeita ao Targum, diz respeito à nossa cidadania neste mundo. Vivemos na Terra como se esta fosse a nossa casa, e sobre a qual temos absoluto domínio. Sem querer bater nas teclas do tão conclamado binômio preservação ambiental X aquecimento global, que até agora temos ouvido apenas as opiniões dos curiosos, que sem embasamento científico algum olham para o céu, para o solo e para o mar das suas micro-aldeias, e determinam o fim dos tempos para a semana que vem, como se a humanidade fosse capaz de propiciar cataclismos dessa natureza. Mas este é outro assunto. A realidade cristã diz que nós somos forasteiros nesse mundo, e que devido à distância que fazemos questão de manter de Deus, perdemos não somente a linguagem, mas tudo aquilo que é próprio ao Reino dos Céus, que é onde Jesus ordenou que tentássemos viver a qualquer custo.
Eu gosto muito de um hino antigo que diz assim: Sou forasteiro aqui,/ Em terra estranha estou,/ O Céu já antevi,/ Possuí‐lo, enfim, eu vou;/ Embaixador, por Deus,/ Do Reino lá dos Céus,/ Venho em serviço do meu Rei. Não somos desse planeta. Estamos aqui a serviço. Não somos donos de nada, muito menos da construção pomposa que chamamos de igreja. Esses predicados nos fazem ver a necessidade urgente de ter que traduzir, interpretar e explicar as Escrituras, primeiramente para nós mesmos, e depois para todos aqueles que habitam essa terra estranha.
Interessante também é saber que os antigos classificavam os leitores dos textos bíblicos em quatro categorias:
À primeira deram o nome de pshat, que é aquela em que o leitor não vai além de formar imagens turvas do que está lendo. Lê apenas, sem compreender o simbolismo.
A segunda, chamada de remezé aquela em que o próprio texto convence o leitor que existe algo bem mais profundo do que as imagens que ele formou. É apenas o começo da percepção do que o texto quer realmente dizer.
No terceiro nível, no darash, o leitor desce à profundidade do texto o faz dizer o que ele tem de oculto. Não se trata de especulação ou “forçação de barra”, como dizem os meus conterrâneos, mas sim de ter a sensibilidade para entender a língua mãe, que neste caso não é o hebraico, o aramaico, o grego ou qualquer uma outra, mas a linguagem do amor, sobre a qual toda a Escritura está firmemente fundamentada.
Parece que este último é o estágio final, mas não é. Ainda tem sod, onde a relação com Deus se faz para além do que está escrito na Bíblia, e que faz com que o leitor viva em conformidade com que as Sagradas Escrituras revelam. Este é o estágio em que o leitor não mais fala da Bíblia, mas em que a Bíblia é que fala por ele. (continua)





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