19 maio 2014
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Uma criança os guiará, Marco Antônio Zeledon Truque |
Como conceber, então, uma casa de Deus, quando a tecnologia já desmistificou os limites daquilo que imaginávamos serem o céu e o inferno? Como ainda pensar a partir da noção de alto e baixo em um universo em que os astros estão em constante movimento giratório? Mesmo instigado por essas e outras perguntas volto à pergunta inicial, cuja resposta continua sendo sim e não: Existe uma casa de Deus?
Quando esse projeto é construído em um local sagrado, alto e distante, permitido apenas àqueles que o galgaram por méritos próprios. Quando esta casa é um espaço na Terra dos humanos completamente desassociado da sua realidade, e não passa de uma pequena fração de uma realidade estupidamente maior, temos que dizer que esta não é a casa de Deus. Esta casa não existe como casa de Deus, pois deixa fora dela o principal objeto do amor de Deus em Cristo, que por mais de uma vez declarou:eu vim para buscar os pecadores e não os justos. Este é um não existe.
Porém, quando essa casa é abrangente, que congrega pessoas de todas as línguas, de todas as raças e de todos os credos. Quando mantém as suas portas escancaradas para indistintamente todas as pessoas, ela se encaixa perfeitamente no propósito inicial de Deus, quando, sob severas restrições permitiu que um templo fosse erigido em seu nome: que fosse uma casa de oração e não de adoração, e que seria para todos os povos. Este é um sim, existe.
Quando o projeto se propõe a moldar a rica variedade da natureza humana em padrões de costumes e comportamentos únicos, e que jamais leva em conta a necessidade ou as expectativas das pessoas. Quando através de doutrinas, afirmações de fé ou ritos elaborados consegue barrar o caminho daqueles que aturdidos pelos infortúnios da vida tateiam no escuro, guiados apenas pelo instinto animal da sobrevivência, não há como vir ser um dia a casa de Deus. Este é mais do que um evidente não existe.
Mas quando ele se multiplica em opções e abre todas as possibilidades imagináveis para que ela seja o máximo possível parecida com a casa de Deus vislumbrada por Jesus. A casa em que ele afirmou categoricamente haver muitas moradas. Ele se aproxima ainda mais de uma realidade já experimentada, que embora ainda fosse imperfeita, funcionou nos primórdios do Cristianismo. Uma casa que sem as mínimas condições recebia às vezes três, às vezes cinco mil novos adeptos em apenas um dia, com um único apelo, e que contava com a simpatia de todos. Sim, essa existe como casa de Deus.
Mas estas seriam apenas antevisões precárias de um projeto que tende a ser muito mais ambicioso do que uma simples casa. Até agora falamos tão somente de uma casa de Deus que estaria dentro de um ideal atrelado aos anseios humanos. Já nos perguntamos como ficaria o próprio Deus nessa casa?
Fala-se muito, e há muito tempo, das maravilhas que os céus contêm. Alguns até o concebem com ruas de ouro e casas construídas com pedras e metais raros e preciosos. Porém, a própria Bíblia nos diz que o céu não é a sua morada preferida e nem definitiva. Segundo o livro de Jó, capítulo 4, verso 18: Deus não confia nem nos seus servidores celestiais e até nos seus anjos ele encontra defeitos. Ou seja, não somos apenas nós que estamos em busca da casa de Deus. Nesse projeto ambicioso, Jesus, negando a teoria de uma criação acabada, diz que ele trabalha até agora, e que seu Pai trabalha junto com ele.